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Felipe Kaizer
Formação Histórica do Design Gráfico

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​Como acontece com muitos jovens no momento de decidir por uma profissão, Felipe Kaizer fez sua escolha meio que por eliminação. Sabia que não queria ser médico, engenheiro nem advogado. Ao mesmo tempo, sentia uma certa insegurança em seguir para a área de humanas, tornando-se historiador ou sociólogo. “Minha decisão foi tomada às vésperas das provas: Design Industrial”, diz. Mas a verdade era que ele tinha pouquíssima compreensão do que era design ou do que estudaria. “Só sabia que era uma faculdade que atraía adolescentes que, como eu, tinham alguma inclinação para o desenho”, diz.
O fato é que Felipe realmente se interessou pelo assunto e segue estudando e se especializando até hoje.  Na época da universidade, aproveitou a

Arquivo pessoal

estrutura da instituição para traçar um caminho próprio, para além do programa pré-estabelecido. “Fui buscar referências em outras áreas, principalmente na filosofia. O apoio do meu orientador nos últimos semestres foi fundamental para a minha investida no campo da história e da teoria, que ainda era muito incipiente na época”, conta.

Assim, ele se formou em Desenho Industrial pela PUC-Rio, no final de 2006, apresentando uma monografia sobre a dimensão política do design, a partir do conceito de ação da pensadora alemã Hannah Arendt. “Eu descobri seu livro A condição humana em uma disciplina de filosofia e carreguei comigo algumas questões conceituais ao longo do curso. Aproveitei o sistema de créditos da universidade para estudar teoria política e filosofia da arte em outros departamentos. Ainda à margem do programa, estudei desenho de tipos com Eduardo Berliner, além de aprofundar minhas leituras de filosofia com Pedro Duarte e Eduardo Jardim”, conta.

Também começou a estagiar, primeiro na vice-reitoria de graduação da própria PUC, onde foi responsável por desenhar materiais de divulgação, certificados e documentos da instituição. Depois, em 2005, trabalhou em um escritório de design, a Tecnopop, como estagiário de André Stolarski, arquiteto formado na FAU-USP e ex-coordenador de design do MAM-RJ. “Foi um período de intensa atividade: fiz parte de um grupo de estagiários que tinham liberdade para atuar como designers de facto, ou seja, um estagiário valia e trabalhava plenamente como um designer”, lembra.

A partir de 2007, as oportunidades de trabalho na área foram envolvendo Felipe cada vez mais: foi designer gráfico no Senac do Rio e no escritório de Jair de Souza, colaborou como freelancer para o Escritório Modelo da PUC-Rio e para o estúdio de criação Tabaruba e, em 2009, mudou-se para São Paulo para participar da criação de uma área permanente de design na Fundação Bienal de São Paulo, a convite de Stolarski. “Foi um período de muita dedicação e esforço coletivo: além da consolidação da identidade visual da instituição e da criação de processos, ferramentas e métodos de trabalho, realizamos três Bienais e duas grandes exposições intermediárias. Alguns dos materiais produzidos pela equipe foram premiados, expostos e publicados pela ADG Brasil, pela AGI e pela IDSA/IDEA”, diz.

A capital paulista também inspirou Felipe a estudar novamente: interessou-se pelo curso de pós-graduação Design e Humanidade, no Centro Universitário Maria Antonia, onde conheceu professores de arte, design, arquitetura, filosofia, sociologia e história. “Conclui o curso com um projeto de banco de dados sobre a história da instituição”, lembra. Depois, motivado por um reencontro com seu antigo orientador, João de Souza Leite, no final de 2014, escreveu uma proposta de doutorado a partir das questões levantadas no seu trabalho de graduação. A pesquisa foi aceita pelo Programa de Pós-Graduação da ESDI - Escola Superior de Desenho Industrial (UERJ), e, em 2016, ele retomou seus estudos sobre história e teoria do design.

De certo modo, Felipe acredita que suas experiências profissionais deram mais consistência à sua visão do design como um processo político: “A Tecnopop foi uma grande escola, onde vivenciei as dificuldades do mercado de projetos e o papel fundamental das relações de confiança no trabalho. Pouco tempo depois, a passagem pela Bienal de São Paulo confirmou minhas impressões de que o design não é uma atividade individual e de que a noção de autoria é por vezes redutora”.

Ao longo de sua carreira, ele foi levado a repensar o significado do design várias vezes. “À medida que entrei em contato com a teoria e a história social do design, entendi que o termo, no Brasil, tem uma conotação particular: os designers brasileiros não se confundem com os arquitetos nem com os engenheiros, por mais que essas diferenças sejam pouco relevantes do ponto de vista da formação histórica do modern design. Para complicar ainda mais o cenário, descobri que o termo tem sido empregado desde o final dos anos 1960 por estudiosos e profissionais da administração e de negócios. Autores como Herbert Simon, Horst Rittel e Richard Buchanan contribuíram decisivamente para um entendimento mais geral do design como projeto. Já no campo do design gráfico, é preciso reconhecer suas origens pré-modernas, como o faz Philip Meggs em História do Design Gráfico. Essa obra ajuda a identificar o momento histórico em que uma prática projetual começa a se destacar da história geral da arte. Pelo que observei, as invenções da tipografia e da gravura no século XV, e da fotografia no XIX, guardam pontos de inflexão importantes. Sem estudar esses fenômenos, é impossível compreender o campo que se consolida depois da Segunda Guerra Mundial e que chega a um limite com o surgimento das mídias digitais no final do século”, explica Felipe, que pretende traçar esse percurso histórico do design gráfico nas oito aulas que acontecerão em outubro e novembro no Lugar de Ler.

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