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Flávia Reis
A literatura e a pintura em livros de arte para crianças

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Aos 10 anos, Flávia Reis descobriu que as palavras tinham o poder de traduzir a sua imaginação. Durante uma viagem ao Rio de Janeiro com o pai, ela escutou que existia um palácio de cristal em Petrópolis. Por mais que pedisse, não conseguiu convencer seu pai a levá-la até lá. Sem conhecer o palácio de verdade, ela logo inventou um palácio próprio e escreveu sua primeira história. Anos mais tarde, em 2006, esse texto amadureceu e inspirou o seu livro de estreia, Bernardo e a Princesa de Cristal (Editora Callis), em que ela conta uma aventura que acontece no Brasil no final do império.

E como sua imaginação não para, vieram outros livros: Bernardo e o enigma das Amazonas, De vários jeitos, Tempo de beijar (todos da Ed. Callis), Os perguntadores da garrafa (Ed. Moderna), além de três textos inéditos que estão em produção.

Sempre preocupada em escrever mais e melhor, Flávia quis se especializar e partiu para um caminho acadêmico: iniciou um mestrado em Letras na Universidade de São Paulo. Foi nesse momento que o mundo das palavras pregou uma surpresa nela: a levou para um mundo ainda desconhecido, mas tão irresistível quanto, o das imagens: “Eu estava acostumada a ver ilustrações criadas a partir do texto. Quando percebi que existia um caminho contrário, ou seja, o texto sendo criado a partir da imagem, fiquei muito empolgada”, diz a autora.

Flávia começou então uma interessante pesquisa, que durou cerca de três anos, em torno da criação artística literária baseada em imagens pictóricas na composição de livros de arte para crianças e jovens. Estudou principalmente a coleção Arte para Crianças, da Berlendis & Vertecchia Editores, lançada em 1980 com a proposta inédita de reunir num só volume dois tipos de leitura, a pictórica e a literária. A editora escolhia um pintor e convidava um escritor para criar um texto de ficção a partir da obra do artista: Alfredo Volpi e Ana Maria Machado, Tomie Ohtake e Lygia Bojunga, Carlos Scliar e Fernando Sabino, Carybé e Jorge Amado etc.

“Notei que em vários desses livros havia textos que funcionavam muito bem com as imagens. Mas também havia casos não tão bem sucedidos”, diz Flávia, que elegeu a obra 7 cartas e 2 sonhos para ser o objeto de pesquisa do seu mestrado. “O texto de Lygia Bojunga baseado nas pinturas de Tomie Ohtake criou uma composição muito feliz do ponto de vista da análise literária, ainda mais pelo fato de que o texto, mais tarde, desprendeu-se dessas imagens. A história de Lygia foi relançada em outra edição, sem as imagens da Tomie. Esse histórico me conquistou”.

O curso A literatura e a pintura em livros de arte para crianças, que Flávia dará no Lugar de Ler em agosto, nasceu desse percurso. Ela falará sobre o projeto 7 cartas e 2 sonhos, promovendo reflexões e análises sobre esse enlace artístico, tanto em relação ao processo de criação, como em relação às leituras e recepções desse trabalho.

“O livro de arte para crianças pode transitar por linguagens distintas, a verbal e a imagética, e descobrir suas fronteiras. Logicamente, dependendo da idade do leitor, um mediador, como um professor por exemplo, pode auxiliar para que isso aconteça. Mas o que importa é a dupla riqueza concentrada num mesmo suporte - o livro”, diz.

Além do curso, sua pesquisa lhe rendeu um momento mágico: seu encontro com Lygia Bojunga. “Estive com ela em 2016, quando passei uma tarde em sua casa no Bairro de Santa Teresa, no Rio. Conversamos sobre processo de criação, livros, e conheci a fundação “A Casa Lygia Bojunga”, seus trabalhos sociais, sua editora”, lembra.

Já envolvida com a pesquisa de doutorado, que se estendeu para os demais projetos da coleção Arte para crianças, Flávia viaja em setembro para o Simpósio de Literatura infantil e juvenil do Mercosul, que reunirá pesquisadores da América Latina na Universidade de Córdoba. “Estarei lá contando sobre essa pesquisa e os caminhos que estou trilhando no meu doutorado com o estudo de outros trabalhos do gênero”.

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