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O jabuti não tá nem aí, 

de Itamar Assumpção

Ilustrações de Dalton Paula

Leitura de Janette Tavano

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Foi uma deliciosa surpresa descobrir que Itamar Assumpção, compositor, cantor, instrumentista e poeta paulista, que morreu em 2003, tinha escrito vários livros especialmente para as crianças. Produzidos entre 1998 e 2003, esses textos nunca haviam sido publicados e foram resgatados por sua filha Anelis, que encontrou os cadernos com as anotações do pai e os apresentou à Isabel Malzoni, da editora Caixote.


Nasceu assim a coleção “Itamar para crianças”, uma preciosidade que, como diz o título do décimo álbum de Itamar em parceria com Naná Vasconcelos, “vai dar repercussão”.
Primeiro porque Isabel reuniu um time especialíssimo para a produção dos quatro livros da coleção: para editar o texto de Itamar, chamou Alice Ruiz S, poeta, amiga do músico e sua parceira em várias composições. Para ilustrar, convidou Dalton Paula, artista plástico brasileiro que investiga as influências da diáspora africana na cultura e história do Brasil, que já expôs no Masp, Instituto Tomie Ohtake, Pinacoteca, Bienal de São Paulo e Trienal do Novo Museu em Nova York. Fã de Itamar, ele diz que sentiu o chamado da ancestralidade com esse convite. É a sua estreia na ilustração de livros.


Raquel Matsushita cuidou do projeto gráfico: elaborou uma coleção supercaprichada, em formato quadrado, capa dura, e usou uma paleta de cores com base nas ilustrações em aquarela de Dalton. Deu para as imagens total destaque nas páginas da direita, de onde conversam com os textos que ficam à esquerda sobre o fundo colorido.
Mas a maior das surpresas, claro, fica por conta do texto de Itamar, com rimas pouco convencionais, trava-línguas bem-humorados e histórias protagonizadas por bichos – o artista amava a natureza, as flores e os animais.
No caso deste segundo volume, a estrela é o jabuti. Ou será um cágado? Ou uma tartaruga?
 
“Quem não sabe, chama o jabuti
de cágado, de tartaruga.
É certo que os três são lentos
e não pulam como as pulgas.”

 

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Segundo Anelis, quando ela era pequena, a família tinha dois jabutis no jardim de casa, que Itamar tinha batizado de “Devagar” e “Quase Parando”. “Naquele quintal, entre descobertas e brincadeiras enquanto nos ensinava sobre a natureza, o Ita também observava os ciclos e movimentos daquele miniuniverso para que, mais tarde, virassem histórias para todas as crianças”, ela escreve na abertura do livro.


“A prática do autor em fazer letras para canções foi emprestada para este texto, que flui naturalmente”, comenta na contracapa do livro o também compositor Paulo Tatit – outra surpresa boa dessa coleção são os textos finais (o compositor Chico César assinou o do primeiro volume, Homem-bicho, bicho-homem).

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Enquanto Itamar nos canta as várias características do jabuti, as imagens de Dalton mostram jabutis realistas, mas que se entregam totalmente à brincadeira dos versos. Vemos então um jabuti voando num carro de fórmula 1- balão, um jabuti caído de patas para cima pedindo socorro pelo celular, dois jabutis desfilando na avenida (conseguirão chegar ao final do desfile?), um jabuti na esteira ergométrica ou o jabuti boa gente, estendendo a pata para cumprimentar o amigo homem. Ao fundo, parece que até escutamos a fala cantada do próprio artista:
 
“O jabuti tem desenho
em negro e amarelo.
O jabuti não é pardo.
A fêmea tende ao vermelho.”
 
Embora ele se considerasse um Poeta Não, a poesia acontece espontânea e com ritmo:
 
“Para jabuti dar um passo,
o novo já ficou velho.
O jabuti não é lesma.
Mas a lerdeza é a mesma.”
 
ou
 
“É um réptil quelônio
que anda muito devagar!
Vai o dia, vem a noite,
e está no mesmo lugar.”
 
Em alguns versos percebe-se o lado irônico e crítico do compositor:
 
“Jabuti vive muito.
Ele sabe tantos assuntos...
Ouviu da tataravó
que os homens são um perigo.”
 
ou
 
“Melhor seria desvirá-lo
e deixá-lo estar.
Para procriar e criar,
devagarzinho,
soltinhos, bastante
jabutizinhos
para nunca mais acabar.”

E entre jabutis sem pressa, jabutis com tutano, jabutis mansinhos, jabutis que tocam sax -- ou bateria --, jabutis zen, jabutis de estimação, jabutis nem aí, lemos e relemos os versos de Itamar, bem devagarinho, quase no mesmo passo do jabuti, para durar mais tempo. Mas contando os dias à espera do terceiro volume da coleção que chega só no ano que vem... parece até o jabuti.

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O jabuti não tá nem aí
texto de Itamar Assumpção
Ilustrações de Dalton Paula
Editora Caixote
ISBN 978-65-86666-12-0
42 páginas
21  x 21 cm
Para todas as idades

editoracaixote.com.br

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