“Vitorianas Macabras” para adoradores da mórbida beleza de existir e transformar

 
com Tania Lopes
 
“Vitorianas Macabras” é uma antologia, publicada pela DarkSide (2020), que reúne treze contos magníficos e assustadores, escritos por mulheres que viveram durante o período do reinado da Rainha Vitória. Muitas delas tiveram desde infâncias miseráveis a maridos abusivos. Houve quem fez parte de círculos invejados da Era Vitoriana e quem levou uma vida mais reservada. Várias se engajaram na luta pelos direitos das mulheres. Entre essas macabras houve uma professora de ciências políticas e uma que adorava expedições arqueológicas; uma se interessou pela psicanálise, outra se enveredou pela filosofia. Mas todas elas compartilhavam o amor pela literatura e passaram a vida escrevendo: viveram da e pela arte.
 
Há muitos anos sigo uma mantra: a literatura é meu arsenal! Em nossa realidade, o intelecto não tem muito valor, a criatividade e a liberdade artística são cerceadas e os empenhos literários tachados de obsoletos. Nesse contexto desesperador, a literatura é um arsenal para a resistência que a leitura pode promover. E por isso, convido aos “adoradores da mórbida beleza de existir” a conhecerem treze mulheres que, em uma era de trevas (sempre a nos rondar), ignoraram muitos obstáculos e se dedicaram à escrita e ao pensamento crítico.
 
Os contos que vamos ler e sobre os quais vamos conversar foram traduzidos pela Márcia Heloísa e Marina Pereira.

“A Prece” (Violet Hunt) é tipo um avô de “Cemitério Maldito”.

“Onde o Fogo Não se Apaga” (May Sinclair), com uma atmosfera perturbadora, é uma mistura da tensão persecutória dos slashers e a profundidade do terror psicológico.

“Amour Dure” (Vernon Lee), trágico e fantasmagórico, é uma combinação de Alfred Hitchcock, Brian De Palma e Mario Bava.

“A Porta Sinistra” (Charlotte Riddell), “O Espectro de Napoleão” (Charlotte Brontë) e “A Verdade, Nada Mais Que a Verdade” (Rhoda Broughton) são contos com toques cômicos.

“O Mistério do Elevador” (Louisa Baldwin), “O Coche Fantasma” (Amelia B. Edwards) e “O Conto da Velha Ama” (Elizabeth Gaskell) trazem fantasmas inesquecíveis.

“A Maldição da Morta” (H. D. Everett) mistura com habilidade o horror e o humor.

“Mortos em Mármore” (Edith Nesbit) e “A Sombra da Morte” (Mary Braddon) são os contos mais sombrios do volume, enquanto “A Janela da Biblioteca” (Margaret Oliphant) pode ser compreendido como um refinado ensaio melancólico e poético sobre o fantasma da solidão.

Em seu texto introdutório à antologia, no qual me baseio para fazer este convite, Márcia Heloísa faz uma homenagem a todas as mulheres da Era Vitoriana — da Rainha Vitória às cientistas, enfermeiras, operárias, sufragistas, pintoras, governantas, costureiras, médiuns, dançarinas, professoras, atrizes, filósofas, tradutoras, poetas, modelos, etc. —, que abriram novas sendas para que pudéssemos trilhar nossos caminhos.

A literatura não modifica a realidade, mas transforma o nosso olhar e nos dá condições para suportá-la. A literatura é o nosso arsenal!

Referência:
Vitoriosas. In: Vitorianas Macabras. Charlotte Brontë [et al]; organização e tradução de Márcia Heloísa. São Paulo, DarkSide Books, 2020.