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Matheus Leston

Como ouvir música moderna e contemporânea

Ir a uma apresentação da Orquestra Vermelha é uma experiência bastante surpreendente. E não apenas pela qualidade do som ou pelo visual super bem-cuidado, mas principalmente pela performance de Matheus Leston, o único músico que está realmente ali no palco, ao vivo, controlando tudo. Todos os outros membros da banda são sombras, projetadas em tamanhos reais em painéis de led. Esses músicos virtuais foram filmados e gravados em um estúdio, cada um de uma vez, improvisando sons a partir de bases musicais simples. Guitarras, baixos elétrico

foto Matheus.jpg

arquivo pessoal

e acústico, bateria, pianos acústico e elétrico, vozes, saxofones, trompete e tuba. Uma composição coletiva à distância.

O projeto, premiado pelo Programa Rumos do Itaú Cultural, foi criado e desenvolvido em 2013 por Matheus, também artista e produtor musical, para discutir o que é um show. Computador é um instrumento musical? O que é um músico? Qual a diferença entre músico e produtor? O que é um show ao vivo se hoje em dia os playbacks e sons eletrônicos são cada vez mais comuns?

A história de Matheus com a música começou cedo, quando ele tinha 8 anos e quis aprender a tocar teclado e, mais tarde, baixo elétrico. “Depois, descobri meu interesse por aquilo que se chamava ‘música estranha’ e, durante o ensino médio, entrei em contato com a música experimental, contemporânea. Aos poucos fui largando o estudo de jazz para me concentrar em áudio e produção eletrônica”, diz.

Por conta dessa escolha menos convencional, decidiu não estudar música na universidade. “Acabei me graduando em Letras, mas acredito que grande parte da minha formação aconteceu nas instituições de arte em que trabalhei, em especial no Instituto Tomie Ohtake e na Fundação Bienal”, conta.

A relação entre música e literatura sempre o interessou. “É muito curioso notar os termos que pegamos emprestado de uma área para falar da outra: frase, tema, ritmo, sintaxe, Leitmotiv, composição. E é claro que isso acontece, pois em uma concepção mais tradicional, ambas são artes que se desenvolvem no tempo de maneira linear em um encadeamento de acontecimentos. Para mim, a música é a arte de organizar o tempo através do controle das nossas expectativas. Tensão, resolução, desenvolvimento e repetição são maneiras de nos guiar ao longo de uma jornada que, às vezes, não tem outro assunto além dela própria e do próprio tempo. Por isso, a literatura gosta de usar termos temporais da música e a música gosta de usar os termos típicos de construção de narrativa”.

Matheus é hoje um artista multimídia que, a partir de uma perspectiva crítica, produz trabalhos que tensionam as relações entre arte e tecnologia e entre música e visualidade. Além da Orquestra Vermelha - que já tocou em diversos festivais no Brasil - ele também criou o projeto Ré. Foi músico da Patife Band e compôs trilhas sonoras para a série “Contos do Edgar” e diversos curtas-metragens.

“Na minha produção pessoal, o foco é a relação entre som e imagem. Não tenho dúvida de que aquilo que vemos altera a percepção do que ouvimos e vice-versa. E, para mim, o computador é a maneira de estabelecer essas relações, transformando vídeos, imagens, sons, luzes e equações em dados que podem ser manipulados e transpostos de um campo para outro. Eu não entendo a programação e o meio digital como um instrumento, mas sim como a própria forma do trabalho ou, ao menos, parte dela, para construir essas relações entre som e imagem de maneira crítica. De certo modo, é também importar para o campo da música uma discussão formal típica das artes visuais”, diz.

Seu curso no Lugar de Ler vai falar sobre isso e abordar a produção erudita do século passado: “Pensado para quem não tem familiaridade com teoria musical, é uma introdução ao tema. Vamos treinar a audição de forma a entender os avanços formais de cada compositor através da escuta e não apenas do que conta a história", diz Matheus.

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