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Suzy Lee: uma apaixonada por livros

A artista sul-coreana Suzy Lee, autora dos sensíveis Onda, Espelho, Sombra, Linhas, entre outros livros para crianças, deu um depoimento ao pesquisador de Literatura Infantil Luís Girão, especialmente para o site do Lugar de Ler. Ela fala de livros, palavras, imagens e ideias.

Em março, Luís inicia um curso no Lugar de Ler em que aborda justamente a trajetória e a obra dessa importante e premiada autora e ilustradora.

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Autorretrato de Suzy Lee.

“O livro é o meio ou a mídia mais íntima nos dias atuais. Trata-se de um objeto tão íntimo que você pode segurar em uma mão. Ele tem algo de caloroso, ainda mais se carregar dentro de si a sua história favorita. Esse traço de "objetividade" não tem como desaparecer em nossa vida, em nossa realidade. É importante sentir essa "realidade", a sensação de que algo está "realmente" ali. O livro é o objeto mais antigo e o mais próximo em nosso mundo contemporâneo, pelo menos, é como ainda acredito que seja.

Palavras e imagens são textos que sempre funcionam juntos em um livro. Elas se auxiliam, contam umas com as outras, impulsionam-se entre si para produzir uma ironia. Eu adoro a lacuna entre a palavra e a imagem, além do impacto sinergético que elas criam em conjunto. Assim como a combinação de palavras individuais origina o terceiro espaço em um poema, a onda que surge do espaço entre palavras e imagens é capaz de levar os leitores para outros lugares. Em Zoológico*(2004), por exemplo, as palavras e as imagens dizem coisas distintas para o leitor. E é ele quem vai efetuar a combinação dos significados desses diferentes gestos. Já em Meu ateliê iluminado* (2008,), as palavras narram a história principal e as imagens confirmam e ampliam essa mesma versão. Em Rio, o cachorro preto* (2019), as palavras são responsáveis por concentrar a emoção do livro. Nos livros-imagem, por sua vez, as histórias são totalmente diferentes. Esses livros têm sua própria lógica. Eu diria que em Espelho (2009), o espaço vazio é um dos pilares estruturais da história, capaz de enfatizar a espacialidade do espelho.  

Um geu-rim-chaek [pode ser livremente traduzido como livro ilustrado, livro-álbum ou livro-imagem) é certamente uma coleção de grandes artes reunidas. No entanto, isso não acontece porque ele possui belas imagens, mas porque é em si uma forma de arte, contendo tudo aquilo que poderíamos imaginar sobre o que a arte poderia ser. E o mais maravilhoso é que a arte é para todas as idades.

A forma de um livro também diz algo: o formato reduzido de Rio, o cachorro preto, por exemplo, tem a intenção de dar aos leitores uma sensação de intimidade. A história de Rio era muito pessoal para mim, portanto , não estava em meus planos transformá-la em algo grandioso. Preferi mantê-la como um diário. Meus cadernos de desenhos e esboços ainda estão cheios de anotações sobre livros que eu gostaria de fazer algum dia, num futuro próximo. Como é de se esperar, essas anotações não são conectadas entre si e algumas são até irrelevantes. Há ideias para histórias que se passam em uma linda praia no inverno, outras sobre andar de trenó no gelo com meus filhos e, inclusive, algumas anotações sobre os trágicos acidentes na Coreia. Eu não saberia dizer, ao certo, qual dessas anotações me levaria ao próximo projeto. Será algo assim como Rio, o cachorro preto – esse livro simplesmente aconteceu.”

* Títulos ainda não publicados no Brasil.

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Capa do livro Rio, o cachorro preto (Editora BIR Publishing Co., Ltd.)

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