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Cristina Casagrande

Tolkien e a formação do imaginário

Formada em Jornalismo pela Cásper Líbero (São Paulo) e em Letras pela USP, Cristina Casagrande queria muito ser jornalista. Mas, depois de alguns anos trabalhando na área, se desiludiu com o mercado. Cansada das redações, resolveu dar um tempo e pensar o que fazer. Voltou então a vontade de estudar e decidiu ingressar em um mestrado em Literatura.

Ela sabia que queria estudar sobre a amizade e sua importância na formação do caráter. Também sabia que sua base teórica estava em Aristóteles e no seu Ética a Nicômaco, que tem dois capítulos dedicados ao tema e que ela havia lido durante as aulas optativas na faculdade de Filosofia. E estava decidida a focar na Literatura Infantil e Juvenil, que, segundo ela, é capaz de exercer uma influência muito importante na nossa formação. Só não conseguia juntar tudo isso. Num primeiro momento, cogitou analisar o Sítio do picapau amarelo, de Monteiro Lobato. Mas ainda não estava convencida.

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Arquivo pessoal

Até o dia em que seu marido chegou em casa com um box que tinha todas as versões da trilogia do Senhor dos Anéis, dirigida por Peter Jackson. Nesse momento, Cristina montou o quebra-cabeça. Ela já tinha lido O Silmarillion, O Hobbit e O Senhor dos Anéis e achou que J. R. R. Tolkien tinha muito a ver com Aristóteles e com tudo o que ela estava imaginando da sua pesquisa. “Olhando de fora hoje, vejo o quanto fui ousada. O livro de Tolkien é cheio de meandros, significados, símbolos, mitologias. Se eu estivesse bem consciente de onde estava me metendo, jamais teria embarcado nessa jornada”, brinca.

Ela não só foi até o fim dessa jornada -- defendeu o mestrado "Em Boa Companhia: a amizade em O Senhor dos Anéis”, na USP, em 2017 -- como iniciou outra, ainda mais longa: atualmente segue na universidade como doutoranda pesquisando sobre J.R.R. Tolkien e a Filosofia. E mais: seu mestrado virou um livro, A amizade em “O Senhor dos Anéis”, que será lançado no primeiro semestre de 2019 pela Editora Martin Claret.

“A verdade é que eu conhecia os livros de Tolkien e os filmes baseados na sua obra apenas como um deleite para mim. Não ia atrás de todos os porquês. Com o tempo e a pesquisa avançada, percebi que o assunto era muito mais sério do que eu pensava. Foi um caminho sem volta. Brinco que Tolkien me escolheu antes que eu o escolhesse!”, diz Cris.

Essa escolha abriu um universo mitológico, filosófico e teológico imenso para ela. "Ele é o maior autor da fantasia moderna e contemporânea. É literatura mundial, já nasceu clássico, mas com uma máscara meio nerd pra ludibriar a cultura pop”, diz.

Para Cristina, a fantasia tem elementos do conto de fada e da épica, no sentido de apresentar um universo mitológico criado só para aquela história -- e quanto mais coerente esse universo for, mais rico também. “De um modo prazeroso e lúdico, a fantasia faz com que consigamos entender mais sobre nós e nosso mundo do que uma suposta verdade que só se apoia no concreto e prescinde do imaginário. Eu diria que a fantasia é a máxima expressão do imaginário”. diz.

Mãe de Francisco, de 5 anos, ela sonha com uma casa com um jardim e um escritório só pra ela, cheio de livros, vidraças e quadros bonitos. Na estante, além de Tolkien, Guimarães Rosa -- “por fazer mágica com as palavras” --, Machado de Assis --  “acredite ou não, sempre gostei, mesmo na época de escola. Acho fascinante a ironia, a profundidade psicológica misturada à crítica social” --, e as clássicas Jane Austen e Charlotte Brontë -- “Jane Eyre está entre meus livros favoritos, é um dos que mais me descrevem”.

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