As marcas (e o vazio) que um sábio caracol deixa no seu caminhar, entrevista com Carol Fernandes
Por Paula de Santis
imagem de Fevereiro, cedida pela autora
Carol Fernandes, ou Carol Caracol, como é conhecida hoje, é uma mulher negra, natural de Belo Horizonte (MG), que não cresceu no meio dos livros, tampouco teve acesso em sua própria infância ao que produz para crianças. Com uma fala mansa, típica dos mineiros, se posiciona com firmeza quando trata de temas que definem sua identidade como artista e como ser humano.
Ana Carolina Alves Fernandes tem 36 anos, escreve e ilustra há apenas cinco e tem sete livros publicados. Além deles, uma fila de projetos pessoais, de ideias e de encomendas em andamento, nos quais trabalha, às vezes de forma simultânea, em outras, com exclusividade. Alternar ou trabalhar apenas em um projeto depende de diversos fatores. Entre eles, os prazos das editoras, o tempo de descanso necessário para que cada ilustração possa ser considerada “pronta” e, sobretudo, o ritmo e a fluidez das ideias.
Quando começou a desenhar e a pintar, em 2018, Carol, que era professora em uma escola de educação infantil, sentia que lecionar e mediar leituras para crianças não bastavam para sua necessidade criativa. A decisão de redirecionar a carreira, inevitavelmente, divide sua vida em um antes e um depois.
Antes, uma estudante de pedagogia que, ainda na faculdade, começou a pesquisar sobre letramento literário e a atuar como mediadora de leitura na Bebeteca, a biblioteca para a primeira infância (de 0 a 6 anos) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
imagem de Cosmonauta, cedida pela autora
Já na sala de aula, sentia que havia uma lacuna a preencher. “Minha escolha pela pedagogia e pela literatura para a infância tem a ver com uma necessidade pessoal de resgate da infância. Me ajuda a reviver, a pensar, atende a um desejo de responder perguntas sobre as infâncias e a revisitar a minha própria infância”, explica ela.
Como resultado desse movimento interno e da experiência profissional até então, decidiu comprar uma aquarela e, mesmo sem recursos financeiros, estudar por conta própria. Consumiu todo o conteúdo digital que encontrou na época. No Youtube, conheceu os materiais - pincéis, papéis e o comportamento da tinta. Assim que conseguiu, fez um curso livre de aquarela com Carol Rossetti, quadrinista de Belo Horizonte.
O “depois” começa em 2019, quando encerra seu trabalho na escola, e coloca no mundo Coração do Mar, seu primeiro livro ilustrado, com imagens feitas em aquarela e lápis de cor. Assim como Odara, a personagem que tem uma relação de amor com a água, se lançou na imensidão do mercado almejando a publicação. Foi acolhida pela Crivo Editorial, editora mineira que publica literatura infantojuvenil pelo selo Crivinho. O lançamento foi bem-sucedido e o projeto se pagou.
imagens de Absurdos, cedidas pela autora
Logo em seguida, veio a pandemia. O isolamento e o confinamento encheram a cabeça de Carol de perguntas, fruto dos desafios de convivência em uma situação atípica e das análises que começou a fazer da sua “casa”, de forma muito mais ampla e intensa. Cria, então, como resultado dessa reflexão, Se eu fosse uma casa, livro que recebeu o selo Cátedra Unesco de Leitura PUC - Rio, 2021.
Dedicada exclusivamente à arte e à literatura, vão aparecendo, aos pouquinhos, O Sapo Iluminado, Dandara - guerreira em cordel, Cosmonauta, Fevereiro e Absurdos.
Carol Caracol
“Eu precisava viver a arte e o livro. Decidi dar um hiperfoco a isso.”
Sozinha ou em parceria com outros autores, ela descreve seu processo criativo como muito sofrido. “Sou lenta para produzir. Costumo apresentar a ideia em um rascunho com bonequinho palito ou miniaturas. Vou coletando indícios, juntando peças, resgatando memórias de infância, somando novos saberes, trazendo elementos atuais… É um longo processo investigativo em que, no final, tudo é costurado para virar um livro”, conta.
Carol só ilustra textos de que gosta, e sempre literários. Não trabalha com roteiros. Encontrar a narrativa visual mais apropriada é, para ela, o grande desafio do trabalho. É por meio dela que vai proporcionar diversas camadas de sentido ao livro e provocar a percepção do leitor cada uma das vezes em que ele folhear as páginas. Por isso, essa narrativa precisa ser muito clara e não pode abarcar uma profusão de ideias, para que não se perca. “Delimito muito meu espaço”, afirma Carol.
E completa: “quando o texto chega, ele descansa comigo um tempo. A partir dos sentidos que já chegam estabelecidos, penso numa narrativa de imagens que pode contradizer ou não o sentido do texto, para brincar com o leitor”, explica. Ou seja, cabe a ela encontrar novos sentidos para o que foi contado com as palavras. Com suas imagens, Carol convida o leitor a se desprender da lógica mais imediata e a deixar a imaginação fluir, abrindo caminhos para as muitas interpretações possíveis, nem que seja “apenas” para imaginar o mundo de uma maneira diferente da que se tem o costume de enxergar.
O que parece dolorido aos olhos da artista revela, no fundo, uma metodologia profundamente particular de criar. Exige uma abertura, de todos os seus sentidos, ao que o coautor do trabalho quer transmitir. Um olhar, uma escuta e um deixar-se arrepiar para que a arte flua, complemente, provoque, surpreenda e o que mais o leitor quiser. Não é fácil, nem suave. Porém intenso e recompensador. O resultado é a fusão de dois que se multiplicam em tantos entendimentos quanto leitores e histórias de vida houver.
Ao olhar a trajetória que percorreu desde o primeiro livro, Coração do Mar, até o mais recente, Absurdos, Carol percebe uma mudança estética na sua produção. “O traço se modifica. Ao fazer todos os dias, descubro o que gosto e o que não gosto e, nesse caso, interrompo”, conta. No que se refere ao texto, a batalha é maior. “Tenho uma lacuna de formação e muita dificuldade com o texto. Preciso estudar sempre. Estou fazendo uma oficina [a oficina de Escrita para o livro ilustrado, com a Carolina Moreyra, aqui no Lugar de Ler!]”.
Carol reconhece ter dado um salto no manejo da linguagem. Ela chegou, muitas vezes, a entregar um trabalho porque tinha esgotado seu arsenal de ideias. “Não saía mais nada”. Nesse passado, não muito distante, Carol se via mais intuitiva e sem controle dos processos das linguagens que, hoje, afirma compreender melhor.
imagem cedida pela autora
Palavra de ordem: vibrante
“O impacto de alguns livros está na cor.”
A cor, na obra de Carol, é sempre uma das protagonistas.
Em Se eu fosse uma casa, livro de estética mais taciturna, as cores são tão importantes quanto o personagem principal, a casa. A obra reflete um sintoma de um período de adoecimento, sofrimento, solidão, mágoa e relações familiares cotidianas e complicadas. Soma-se a isso o fato de casa ser um símbolo forte e que se repete de diferentes formas na vida de Carol. Não à toa, é conhecida como Carol Caracol. Nesse contexto, a paleta definida para o livro foi restrita e marcada pelo preto, do nanquim, o azul e o cinza, traduzindo esse sentimento de melancolia e introspecção. “A paleta reduzida é confortável e dá fluidez ao processo criativo. Tenho desejado reduzir cada vez mais minhas paletas”, conta.
Em Fevereiro, da Editora Caixote, as cores dividem a cena com um símbolo da cultura afro-brasileira, o bloco Filhos de Gandhy, tradicional no Carnaval de Salvador (BA) e que ritualiza uma série de tradições da cultura africana. Ambos têm igual importância para o que o livro conta. A paleta escolhida foi baseada na estética do bloco, em que predominam o branco e o azul. O contraste, e o impacto, está no encontro dessas cores com os tons quentes das peles e com o papel kraft, escolhido como base para as ilustrações. “Esse livro já estava todinho na minha cabeça e, por isso, foi muito rápido para produzir. Nasceu na oficina de livro ilustrado dos autores Carolina Moreyra e Odilon Moraes.
As paletas são sempre definidas por ela antes do início da produção, para não perder a “atmosfera” do que está criando. Antes do primeiro rascunho, vem uma enxurrada de teorias. No caso de Absurdos, feito em parceria com Gisele Teixeira, lançado pela Tuya Edições, por exemplo, ainda que houvesse uma referência de delicadeza e silêncio, sugerida pela escritora, Carol percebeu, estudando o texto, que não poderia haver ali um aspecto aguado. Escolheu tintas mais densas, trabalhou com pinceladas fortes e deixou rastros do pincel no papel. Quando terminou o trabalho, viu as marcas da produção impressas na folha, gerando um caos que, de certa forma, retratava a proposta do livro de apresentar um mundo fantástico, que vai de encontro à ordem natural das coisas. Foi preciso, inclusive, uma digitalização especial das imagens para captar todas as cores.
Cosmonauta, uma parceria de Carol com o escritor Mario Alex Rosa, publicado pela também mineira Aletria Editora e um dos melhores livros de 2023 segundo a revista Crescer, não poderia representar melhor essa relação intrínseca entre as cores, a narrativa e os sentidos. “Entre a palavra e a imagem, há um embate pela narrativa o tempo todo”, afirma. Carol também gosta de chamar esse embate de jogo, dança ou coreografia, provando que quem manda é o movimento. Cabe a ela, quando vai ilustrar, encontrar uma narrativa visual à altura da narrativa verbal e que atraia, com a mesma força do texto, a atenção do leitor. Quando o objetivo de conquista dessa atenção é atingido, cria-se uma tensão positiva entre ambos, onde a história acontece.
Nesse caso, ao conhecer o texto, Carol concluiu: é uma história de amor! “E decidi representar o amor com a cor”, afirma. Ao longo das páginas, que conta a história de um menino apaixonado pela lua, o astro vai se acobreando e chegando cada vez mais perto do vermelho, simbolicamente reconhecida como a cor do amor.
imagem de Fevereiro, cedida pela autora
imagem de Fevereiro, cedida pela autora
A primeira peça desenvolvida para o livro é a que hoje está nas páginas de guarda: a lua em estado de eclipse, para quem observa da Terra. Portanto, encoberta e sem uma cor de destaque. A paleta, segundo Carol, foi definida a partir dessa imagem, que nasceu de muita pesquisa e reúne todos os elementos desejados para contar a história: as cores, o eclipse e a distância (o amor platônico).
E o eclipse, claro, é indispensável para o sentido narrativo. “Ele contém toda a ideia da narrativa visual”, diz Carol. Foi a partir do desdobramento dessa imagem inicial que as demais surgiram e puderam narrar o encontro entre os personagens principais, o menino e a lua. Ao longo das páginas, a lua vai deixando de estar à sombra da Terra e volta a receber a luz do sol. O momento em que ela fica totalmente iluminada “coincide” com a saída do menino do seu ambiente real e com o início da viagem em direção a ela, objeto de seu amor. Como se a lua estivesse inteira, livre, desimpedida, de braços e coração abertos para receber esse amor!
Carol também falou um pouco, nesta entrevista, sobre seu próximo livro, Quintal Voador, que vai ser publicado pela Editora Preguiça. Será um numerário regressivo, baseado na diversidade e na quantidade de pássaros que ela observa da porta do seu ateliê nas diferentes estações do ano. As crianças encontrarão e contarão tucanos, corujas, sabiás, maritacas, pardais e sanhaços do mamão, entre outros.
Ela confessa que deixou a aquarela um pouco de lado, porque está trabalhando numa “vibe” que não combina com a sutileza da aquarela. Tem gostado e tirado proveito de pinceladas mais incisivas, feitas com tinta acrílica. Assumiu para si a responsabilidade de produzir cor a partir das cores primárias. Entende que esse aprendizado é parte muito importante do seu desenvolvimento como artista. Corre lá no O Sapo Iluminado, com texto de Tânia Cristina Dias, publicado em 2021 pela Aletria, para ver o resultado. Nessa obra, ela misturou a tinta acrílica com lápis de cor.
imagens de Se eu fosse uma casa, cedidas pela autora
O mercado editorial
“Ocupo o lugar de uma iniciante.”
Com essa frase forte, Carol se coloca com cuidado e respeito em uma encruzilhada com três limites bem definidos. O primeiro é sua experiência ainda curta, em termos de tempo cronológico, mas reconhecida pelo impacto estético e de significado do seu trabalho. O segundo é a complexidade do processo de criação, no geral “sofrido”. E, por último, a pressão financeira e de prazos apresentada pelo mercado editorial.
Quando começou a fazer livros, Carol não conhecia o funcionamento do mercado do ponto de vista da prestação de serviço. Percebeu, nessa hora, o choque entre o cronograma editorial apertado definido pela editora e a importância do tempo na produção de um livro ilustrado. “É preciso ter tempo de errar, de experimentar e de recalcular a rota. O jogo narrativo-visual precisa de tempo para que as decisões sejam certeiras”, afirma. “Assim, o processo fica mais divertido e menos sofrido”, diz.
Há também os prazos dos editais e das feiras. “A demanda financeira não é a da criatividade, e é importante eu me aproximar também desse jeito de trabalhar”, diz. “Começar de forma independente, sem estar sujeita à pressa das encomendas, foi melhor para eu explorar minha linguagem artística. São etapas importantes para esse ofício. Justamente porque o meu tempo não é o do mercado. Sou devagar.” Esses tempos todos a ajudaram também a conhecer melhor seu jeito de produzir e de criar. “Tenho predileção pelo trabalho mais solitário, com menos interferências”, conta.
imagem de estudos de Se eu fosse uma casa e do livro, nas mãos da autora, ambas cedidas por ela
A força do coletivo
“Busco sempre o coletivo. É um critério que me ajuda a ver se não estou ficando ensimesmada.”
Mesmo muito à vontade sozinha, na hora de colocar a mão na massa, Carol fala o tempo todo sobre a importância das trocas com amigos, colegas de trabalho e de estudo. “O coletivo amplia o meu fazer. Converso muito com as pessoas.”
Esse é também o conselho que ela daria a quem estiver começando na profissão: “se agrupar, estar perto de seus pares, de seus amigos de ofício.” Segundo Carol, as pessoas estão disponíveis para ver a produção continuar para além delas. Então, no coletivo, são pensadas soluções para eventuais problemas, se trocam ideias e se discute precificação. “Precisa haver disposição para pedir e receber essa força”, fala.
imagem de Dandara - guerreira em cordel, cedida pela autora
Referências Literárias
“Minha escola é a produção literária brasileira.”
Entre os inúmeros artistas que admira, Carol cita como referências literárias os autores Odilon Moraes e Renato Moriconi. Adora como a autora Kiusam de Oliveira usa os símbolos iorubás. Admira a complexidade da investigação artística de Josias Marinho, que mistura técnicas como carimbo, nanquim e colagem. E ainda as tintas densas da ilustradora Taísa Borges.
Na hora de citar um livro favorito, não titubeia. Ismália, do Odilon Moraes. A loucura é um tema que eu persigo em investigações pessoais. Está sempre aí. E aquele vazio do verso do livro acaba comigo”, suspira. “Eu achava que era um desperdício, mas tem a ver com o vazio pós-morte.” O livro traz o poema de Alphonsus de Guimarães, também mineiro, e foi publicado originalmente pela extinta Cosac Naify. Hoje está na Sesi-SP Editora.
Nem bem acaba de falar do Ismália e pede licença para citar mais um: Benedito, de Josias Marinho. A admiração se concentra justamente no que “acaba” com ela em Ismália: no espaço em branco da página. “Essa escolha do autor pelo silêncio, num livro que fala da cultura do congado, num livro cheio de música, não é um silêncio de ausência, mas sim cheio de significados”, explica. “O livro tem muito som e o autor escolhe esse silêncio para deixar o leitor se aproximar.”
A obra de Carol também é cheia de espaços em branco. No meio de todas as suas cores. Sua sensibilidade define como e quando fazer uso desse “lugar” no qual o leitor pode respirar, refletir e se maravilhar. É possível conferir esse efeito em Absurdos, Fevereiro - nesse caso o “em branco” do papel kraft - e em Cosmonauta, por exemplo, onde essa cor assume papel importantíssimo na narrativa, definindo um lugar, um território do personagem.
imagem de Cosmonauta, cedida pela autora
Identidade e educação étnico-racial
“Meu trabalho como professora e como mediadora consolida minha identidade negra”
“Quando a literatura começa a fazer parte de quem eu sou como professora, isso tem a ver com educação étnico-racial”, avalia. “Na mediação de leitura com meus alunos, a emoção com os livros sobre cabelo tem tudo a ver com a minha história. Isso cria um diálogo com as crianças e com as famílias.”
Segundo Carol, as pessoas não percebem que o racismo também é um tema delicado na e para a literatura. “Ele nos desumaniza desde que chegamos ao mundo e, em todas as relações, a desigualdade racial é exaustiva para quem vive”. Como autora e artista, ela segue dois caminhos para lidar com o tema, que poderiam parecer antagônicos. Um deles é a linguagem poética, o outro, falar diretamente sobre ele.
“Faz parte da minha identidade falar sobre os aspectos culturais e religiosos da identidade negra, dos festejos. É fundamental que a manifestação negra esteja no centro da roda, no foco do livro, que seja bonita, desejável, motivo de orgulho”, diz, contando que trabalhou com crianças de terreiro que têm essa vivência intrincada, com orgulho de serem quem são e de fazer parte de um coletivo que cultua a religião afro-brasileira. “Vivenciar a cultura negro brasileira significa ‘ser’ verdadeiramente e pode reconstruir o que o racismo apagou. São as políticas públicas que vão mudar a perspectiva”, afirma.
Ao trazer esses elementos para suas obras, Carol acredita apresentar aos leitores outras lógicas de mundo, mais humanizadas. “É a minha forma de trazer a temática”, diz, sem deixar de mencionar autores que têm também sua maneira particular de abrir os olhos do leitor e as páginas dos livros para esse mundo. Ela fala de Kiusam de Oliveira, Madu Costa, Patrícia Santana e Josias Marinho.
Todos eles, à exceção de Patrícia Santana, estão ao seu lado em Karingana - Presenças Negras no Livro para as Infâncias, exposição de ilustrações com foco nas infâncias negras produzidas por autores e artistas negros, em cartaz no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, até janeiro de 2024. Para Carol, a mostra é um marco para a produção literária e para o mercado editorial. “É bonito ver que você faz parte da cronologia da literatura e de um coletivo que se preocupa com a mesma temática e que prioriza isso”, afirma. Além disso, tem o pioneirismo de voltar o olhar para essa produção. Segundo Carol, é o mesmo que olhar para a intelectualidade negra. “Fazer livro para a infância com foco na criança negra é intelectualidade”, afirma. “Aqueles artistas são a geração de pessoas negras que priorizam essa representação em suas obras pela ausência dela em suas infâncias: represento o que fui privada de ter tido acesso.” “Ilustro com personagens negros porque ilustro as pessoas com quem convivo: família, amigos e eu mesma. Estão na minha vida!” Segundo ela, é preciso perguntar se os ilustradores que só ilustram brancos só estão convivendo com brancos.
Carolina Fernandes por Rafa Marques