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Vanessa Ferrari

Imoralidades Literárias

Depois que Vanessa Ferrari se formou em Jornalismo percebeu que não conseguiria ser uma editora em uma redação de jornal porque não se encaixava na urgência do dia a dia jornalístico. Por isso, quando ela recebeu a proposta de trabalhar como editora de literatura não pensou duas vezes: “Na época, um amigo e editor da Companhia das Letras me chamou para trabalhos temporários lá. Havia muito o que fazer e fui ficando, até que me contrataram como editora assistente. Anos depois fui promovida a editora sênior”, conta. 

Ficou na Companhia por seis anos, onde editou livros de ficção adulta, obras clássicas da Penguin e Quadrinhos. Essa experiência acabou despertando em Vanessa o interesse em fazer um mestrado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. “O mestrado foi uma conjunção de fatores. Boa parte do trabalho de um editor é ler originais, nacionais e estrangeiros, e opinar sobre uma possível publicação. Muitos desses textos são indicações de outros autores ou de profissionais da área, mas a maioria chega pelo correio. À medida que eu me debruçava sobre cada um entendi que havia pontos em comum entre eles. O modo de escrever as frases, as metáforas e o tom narrativo eram muito parecidos de um autor para o outro, e isso é uma questão, porque tudo o que o autor quer é ter uma voz própria, com características particulares. Fui então fazendo anotações sem nenhum propósito específico e quando vi tinha uma tipologia de cinco narradores: saudosista, conciso, poético, erudito e autobiográfico. Nesse momento recebi um convite de um professor da FFLCH, Manoel Santiago Mourivaldo Almeida, para desenvolver essa pesquisa pra valer”, conta.

Mais do que uma formação acadêmica, o que interessava a ela naquele momento era estabelecer uma comunicação com os escritores iniciantes: “Queria fazer isso de um modo mais profundo, para discutir a língua, os pontos de vista, e ajudá-los a diferenciar a língua como expressão estética e como instrumento de comunicação. Essa passagem talvez seja a mais difícil de entender para quem decide escrever um livro. Dito de outro modo, eu gostaria que eles entregassem um ótimo livro e que fossem publicados”, conta. “Ser escritor é um processo de amadurecimento para a vida toda e há diversos caminhos. Aconselho a ler e escrever muito, muito mesmo, se debruçar sobre os livros em que os autores discutem a língua para ganhar repertório crítico, além de fazer cursos em que se tenha que entregar textos”, diz.

Esse assunto também transformou Vanessa em professora no curso de Pós-graduação para escritores no Instituto Vera Cruz, em São Paulo. “O programa acontece nos moldes do curso de escrita da Columbia University. Há um

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foto: arquivo pessoal

 

entendimento que é possível aprender, melhorar, se tornar um escritor estudando e praticando. Eu não poderia concordar mais com isso porque vai ao encontro do que acredito. Uma coisa é estar apto a se comunicar numa língua, outra é escrever profissionalmente. É uma sofisticação que a gente não aprende no ensino formal”, diz.

Sua pesquisa em breve poderá ser conhecida por mais pessoas: ela acabou de escrever um livro sobre a tipologia de narradores, que será lançado. “Acho que ficou um livro muito interessante e, se tudo der certo, vai ajudar os autores estreantes e fãs da língua”.

Vanessa também trabalhou na FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty – onde, por quatro anos, produziu textos do catálogo e outras peças gráficas, e atualmente coordena um projeto subsidiado pela Companhia das Letras, de clubes de leitura e remição de pena em doze unidades prisionais no Estado de São Paulo. “Foi uma proposta que ajudei a criar quando trabalhava na editora. Na minha saída, em 2015, o Luiz Schwarcz [presidente do Grupo Companhia das Letras] me pediu para continuar no projeto e topei. É algo que tenho prazer e orgulho porque aprendi muito sobre a formação do leitor. E para eles é um modo de pensar sobre a complexidade da vida, treinar a empatia, a articulação do discurso e fazer planos diferentes para o futuro”.

No Lugar de Ler Vanessa vai falar sobre a literatura erótica, que, segundo ela, é muito fascinante do ponto de vista literário. “Não tanto por conta do tema – transgressor pelo simples fato de existir e ser posto no papel -, mas especialmente porque, para escrever uma cena de sexo é preciso de uma enorme sofisticação narrativa. Não podemos confundir os temas, que são considerados ‘baixos’, com as qualidades narrativas do autor”, diz.

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